terça-feira, 28 de junho de 2011

Resumo do Encontro do Camões 26/06/2011

O grupo que decidiu reunir-se no Camões foi caracterizado como um grupo de pessoas participantes no movimento 15 M, que estiveram presentes na Acampada do Rossio, unidas por uma visão crítica sobre o modo como as assembleias populares se foram desenvolvendo. A ideia do grupo não foi fixar um grupo no Camões, mas sim poder reunir livremente em cada praça. Não tem por objectivo ser um movimento anti. O Manifesto do Rossio, segundo alguns intervenientes, contém um discurso afunilado, havendo a necessidade de trabalhar as questões levantadas pelo mesmo. Foi lançada e lida a proposta de um Manifesto do grupo do Camões, o qual será colocado online no blogue http://15maio.blogspot.com/ e aberto à discussão. Considerou-se que embora se sinta uma urgência em ir para a rua fazer acções, é importante fazer uma reflexão sobre o movimento e sobre as consequências que poderão recair sobre este, caso a passagem à acção se processe de forma irreflectida e não fundamentada, ou inconsequente.
Este grupo tem por objectivo encontrar questões que o conjunto considere fundamentais para serem debatidas, além de encontrar formas de organização em que as pessoas se revejam; o importante numa primeira fase não é trazer muitas pessoas ao movimento, mas encontrar um naipe de temas essenciais que as pessoas tenham interesse em debater em conjunto. Para tal haverá a necessidade de criar grupos de trabalho e de reflexão sobre diversos temas.
Foi apresentado por um dos intervenientes o actual quadro do modo de organização neo-liberal e das suas instituições: multinacionais, sistema financeiro e capital mafioso. O actual sistema partidário e sindical traduz-se em organizações mais cristalizadas do que opositoras a este sistema; a crescente militarização que segura o sistema económico neo-liberal opera não só através da NATO mas através das polícias, dos serviços secretos e das tropas. Os efeitos a nível social deste quadro são os ataques aos desempregados, aos reformados e aos trabalhadores cada vez mais em situação de precariedade, massa de gente incómoda para o sistema económico europeu que a deseja descartar. O défice funciona como um factor de culpabilização dos povos. A nível político e económico há um cenário de corrupção e o capital mafioso alastra a nível mundial. Face a este poderoso sistema mundial só uma lógica de rompimento é possível, o que implica que o movimento produza pensamento e acções consequentes. Quanto a este interveniente a unidade só será possível fora do quadro da lógica partidária. Para tal será preciso realizar estudo, análise, trabalho e acção prática nas ruas. Foram apresentados como exemplo prático dois assuntos da actualidade: a questão da privatização da água e os despedimentos dos estaleiros de Viana do Castelo.
Outro interveniente insistiu na necessidade de restaurar a independência nacional, o que só pode passar pela saída da UE, pelo regresso ao escudo e pela recolocação das fronteiras.
Foi referido que seria um erro se constantemente o movimento se dividisse em grupos. No entanto muitos afirmaram a sua insatisfação relativamente ao modo como se foi desenvolvendo a acção do Rossio, sendo consensual que as assembleias populares se foram esvaziando e que todos os grupos são necessários ao movimento.
Como factores de desunião foram referidos: discursos demasiado radicais ou numa linguagem não acessível às pessoas que se encontram fora do movimento; vacuidade de termos (por ex. Democracia); trocas de acusações pessoais resultantes de egos exacerbados; críticas divergentes mal aceites e incómodas; o desejo de acção imediata como obstáculo à reflexão/discussão dos assuntos.
Rejeitadas estas críticas por parte de elementos activos do Rossio, presentes neste encontro, foi referido que a natureza do Manifesto do Camões não acrescentava nada de muito significativo ao Manifesto do Rossio, que ainda se encontra em discussão no blogue da Acampada, quase sem novas propostas. Se houve quem defendesse ideias partidárias, quem o fez pôde verificar que perdeu com essa atitude. Concluiu-se que todos são necessários ao movimento que se gerou no Rossio e foi lançada a proposta de unir os manifestos, ambos ainda abertos a acolher propostas.
Houve quem defendesse que o movimento do Rossio não pode morrer e que os problemas se devem resolver no local onde existem, alegando-se de que no Rossio existe democracia suficiente para o fazer e doze grupos de trabalho já criados; mas houve também quem evocasse o apelo do próprio Manifesto do Rossio a que o movimento se deve expandir e multiplicar por mais praças e ruas, não havendo intenção de dividir mas antes de multiplicar. O Rossio foi reconhecido não como o pai da luta social, mas como iniciador em Portugal das Acampadas. Se o Rossio morrer essa luta já foi desencadeada e continuará. A acção política não surgiu apenas com estes movimentos; para muitos dos acampados ela já existia sob outras formas.
Outro obstáculo evocado foi a conjectura de décadas de deficiente exercício da democracia e do exercício da cidadania, a qual se tem centrado mais na forma do que no conteúdo. Os espanhóis que participaram na Acampada do Rossio apontam-nos não produzirmos objectivos. Não havendo uma verdadeira obrigatoriedade em cumprir prazos será preciso agilizar o trabalho dos grupos libertando-os de todos os protocolos. Existe dificuldade em ouvir e em saber integrar a diferença. Sendo o Rossio democrático tem que respeitar a divergência quando ela existe e a liberdade dos grupos se reunirem onde entenderem. Mas a falta de objectivos como alternativa poderá fragilizar e dividir o movimento do Rossio que já de si é frágil. No entanto a cisão não é desejável para muitos dos presentes no encontro do Camões, com o risco de fragilizar o movimento social. Houve a proposta de que cada grupo trabalhasse autonomamente mas no fim se juntassem as propostas. Há para quem o Rossio funcione como um movimento que foi surpreendido pela conjectura das Acampadas espanholas e foi o movimento mais agregador desde o 12 Março e o mais significativo desde há 30 anos.
Foram apontados alguns exemplos de falhas no modo de funcionamento do movimento do Rossio, como propostas que foram lançadas e nunca realizadas ou pouco apoiadas, o que conduziu a alguma desmobilização. O Rossio falhou no stress, na rapidez de querer aprovar coisas sem tempo para discussão prévia. Se as assembleias se foram reduzindo em participação é preciso que o movimento reflicta o porquê. O movimento quer-se abrangente e diversificado. A sensibilidade geral é que tem mais a ganhar com a unidade do que com a divisão. Torna-se necessário encontrar pontos de convergência e novas formas de participação. Foi lançada uma proposta de que se constitua um grupo para debater novas formas de participação e organização democrática. Torna-se necessário encontrar bases consensuais de fazer funcionar a democracia directa e a autonomia dos grupos. Houve a proposta de se optar pela realização de reuniões populares, com carácter mais horizontal em vez do modelo das assembleias.
Houve quem referisse o uso do um blogue partidário por elementos do movimento que afirmavam ser apartidários. Condicionar o movimento 15 de Maio aos programas político-partidários não é bem-vindo para muitos dos que estão desde o início no movimento, mas os militantes dos partidos são bem-vindos ao movimento, enquanto pessoas comuns, anónimas, em pleno exercício da sua cidadania, liberdades e direitos.
Foi lançada uma proposta pelo grupo internacional formado no Rossio de o movimento se reunir com dois islandeses que manifestaram essa vontade através do e-mail da Acampada. A reunião decorrerá a 10/11 de Julho em data a confirmar. O objectivo é encontrar plataformas de entendimento entre grupos e pessoas e divulgar esta reunião de forma a ser participada.
Foi dada a sugestão do movimento debater as medidas de austeridade que o governo vai anunciar esta semana, de forma a dar uma resposta concertada, unida e forte. No entanto não há necessariamente um vínculo com o Rossio na discussão de temas, sendo cada grupo livre de debater e propor os temas que desejar.
A fim de dar continuidade a este grupo e a este encontro, foi acertada a data para a discussão de um tema sob proposta. A data (a confirmar) é o dia 5 de Julho (terça-feira), pelas 19h, debate seguido de piquenique no Príncipe Real.
Este grupo procurará encontrar pontos mínimos comuns que justifiquem e propiciem a formação espontânea de grupos.

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