segunda-feira, 25 de julho de 2011

Guia rápido de assemblearismo

[este documento é essencialmente uma compilação que na grande maioria foi retirado das fontes indicadas no final. pretende ser conciso e directo e está em construção]

Pretende-se fazer aqui uma divulgação das técnicas que facilitam o decorrer eficiente e satisfatório deste tipo de obras colectivas: as assembleias. A falta de referências organizativas resultam quase sempre em reuniões longas e improdutivas, em formas anti-democráticas de actuar, em confrontos pessoais cheios de retórica inútil e em manipulação por líderes ou indivíduos carismáticos. É necessária a aquisição de certos conhecimentos sobre técnicas de assemblearismo, mas é também necessária uma atitude cooperativa e de compromisso por parte das participantes em relação à assembleia. As participantes podem ter pontos de vista muito diferentes, mas devem estar abertas para o debate e para a concertação de opiniões, com um sentimento de confiança mútua.
A assembleia deve basear-se na livre associação, ou seja, quem não está de acordo com o que é decidido não deve ser obrigado a fazê-lo. Todas as pessoas devem ser livres de seguir o seu próprio caminho. A assembleia visa gerar inteligência colectiva, linhas comuns de pensamento e de acção.

1. Preparação

1.1 Definir que tipo de assembleia vai ser, conforme o objectivo a que se propõe
  • Informação - as participantes expõem informações de interesse comum. Não há debate.
  • Reflexão - trata-se de pensar conjuntamente um tema, uma situação, uma problemática. Há um debate mas não há necessidade de chegar a uma decisão.
  • Decisão - pode haver troca de informação seguida de debate para depois se chegar a uma resolução comum.
1.2 Definir a ordem de trabalhos
É importante preparar antecipadamente a ordem de trabalhos de forma a que as presentes saibam com antecedência os assuntos a serem tratados e para que as decisões tomadas sejam as correctas.

1.3 Trabalho prévio de pesquisa
Para desenvolver os assuntos pode-se:
  • Preparar documentos com a informação de fundo e distribuí-los pelas participantes.
  • Organizar consultas e entrevistas com especialistas nos tópicos.
  • Divulgar os documentos e materiais necessários para a reunião.
  • Fazer grupos de trabalho antes das reuniões para discutir os problemas e alternativas.
  • Traduzir relatórios, textos e informação complicada para a linguagem que todas compreendam.
1.4 Convocatória
A convocatória deve de ser feita com antecedência, e deve incluir a ordem de trabalhos, o local, a hora, a duração e que tarefas são necessárias fazer para preparar a reunião. Também pode ser definido o universo de pessoas a quem se dirige a convocatória (assembleia de grupos de trabalho que é apenas dirigida aos membros do grupo, assembleia de bairro que é dirigida às habitantes do bairro, etc.)
Idealmente, para cada ponto da ordem de trabalhos será especificado o objectivo e procedimento utilizado, assim como a estimativa do tempo a utilizar.


2. Modo de funcionamento

2.1 Método de decisão
Qualquer que seja o método de decisão escolhido é preciso ter em mente que a parte mais importante do processo é a do debate e de comunicação entre as pessoas. No final, quer a decisão seja conseguida através do voto ou através de um processo de consensualização, a forma como se fez esse percurso é que vai determinar a verdade e a legitimidade dessa decisão.
Implica:
  • Ter muito claro o objectivo a atingir.
  • Ter consciência de que o colectivo se constrói a partir das contribuições e saberes de cada individuo, pelo que é necessário escutar e respeitar as diversas opiniões.
  • Compreender que este processo só pode existir com a participação activa do maior número possível de pessoas.
  • Saber que é um processo que precisa de tempo.
Formas de chegar a uma decisão:
  • Maioria simples - votação no final da discussão
  • Maioria qualificada (por ex. 2/3) - votação no final da discussão
  • Consenso - consegue-se o consenso quando não há nenhum argumento rotundamente contra a proposta apresentada. A consensualização não é a elaboração de uma proposta que inclua todas as opiniões em debate, ou uma síntese entre elas, mas um processo de aproximação de posições até à construção da melhor opção para o objectivo comum.
2.2 Moderação
Pessoa ou pessoas que ficam encarregues dos aspectos organizacionais da assembleia. Têm uma intervenção acerca da forma e não do conteúdo da discussão. A moderação não consiste em liderar ou dirigir, mas numa responsabilidade em ajudar o grupo a atingir os seus objectivos.
Nota: uma pessoa com um grande interesse no assunto em discussão pode ver prejudicada a sua tarefa de moderação.
Nota: a função de moderação deve ser rotativa, mesmo durante a assembleia caso haja necessidade disso, por exemplo, com o aumento de tensão entre as presentes.

Sugestões para a moderadora:
• Dar as boas-vindas às presentes.
• Informar da natureza e funcionamento da assembleia.
• No início da assembleia convidar a falar pessoas que advogam um ponto de vista e depois outras com um ponto de vista oposto.
• Encorajar todas a expressarem a sua opinião.
• Cortar diálogos contínuos ou a repetição de argumentos.
• Pedir às pessoas que falem por elas próprias e a dirigirem-se explicitamente a quem estão a contra-argumentar.
• Encontrar os pontos de acordo, listá-los e devolvê-los ao grupo. Sintetização.
• Há tarefas que podem ser partilhadas com outra pessoa da mesa, como por exemplo a mudança de palavra, mas preferencialmente ficando sujeito ao que a moderadora diz.
• Estar atento ao tempo restante e lembrar à assembleia. Se houver pouco, limitar o tempo das intervenções.
• Moderar de forma positiva e conciliadora as possíveis divergências sem posicionar-se por nenhuma delas
• Recapitular brevemente as intervenções após as rondas de debate ou as intervenções que o requeiram

2.3 Registo em actas
As actas servem para assegurar o compromisso, para dar a conhecer o que foi tratado e para lembrar o que foi tratado e decidido.
Deve ser eleito uma secretária para esta função que não deverá coincidir com outras tarefas como a de moderação. Também se pode fazer rotativamente.
Deve-se tomar nota apenas do que é decidido que envolva compromissos assumidos e legitimação de acções a serem empreendidas.
Pode-se indicar o nível de acordo da assembleia registando o número de votos em caso de não haver consenso.
As actas podem conter mais informação, como a ordem de trabalhos, as várias alternativas e argumentos apresentados, o nome daquelas que os defenderam, outras situações ou incidentes, etc.
As actas devem estar disponíveis a todos os membros do grupo.

2.4 Apresentação de propostas à assembleia
As propostas devem ser apresentadas dizendo o que se pretende, qual a finalidade e como se pode pôr em prática caso seja aceite, de forma a poder ser devidamente analisada pelos outros membros da assembleia.

2.5 Linguagem simbólica
Em assembleias maiores pode-se utilizar gestos para expressar os seguintes factores:
2.5.1 Aprovação: Mover as mãos abertas sobre os pulsos.
2.5.2 Desconformidade: Cruzar os antebraços formando um X sobre a cabeça.
2.5.3 “Já foi dito”, ”Estás a repetir”: Fazem-se girar as mãos sobre elas mesmas.
2.5.4 “Não se ouve bem”: Leva-se as mãos às orelhas ou move-se a mão para cima e para baixo para indicar que se aumente o volume da voz.

Nota: é recomendável informar a Assembleia desta linguagem logo no começo. Também se recomenda informar as assembleárias da conveniência de NÃO expressar os sinais de aprovação ou desconformidade até que a oradora actual acabe a sua intervenção para não a condicionar.

2.6 Sugestões para a expressão comum
Empregar uma linguagem positiva evitando enunciados que diminuam as possibilidades de prosseguir a discussão construtivamente. É uma forma de comunicação mais conciliadora que procura os pontos de união entre as interlocutoras. Exemplo: “Se não chegarmos rápido a um consenso tudo se vai perder” pode expressar-se como “É importante que cheguemos a consenso neste ponto ou podemos perder a força como grupo e isso não interessa a ninguém”.
Empregar uma linguagem inclusiva que não faça diferenças de género.

3. Problemas comuns
  • Perder horas num assunto
  • Formação de facções ou entrada nas assembleias de facções externas
  • Promoção de rivalidades pessoais e desconfiança dentro da assembleia
  • Votação apressada sem permitir verdadeiramente o debate
  • Dificuldade de circulação da informação
  • A assembleia é confundida com um convívio social
  • Falta de estatutos, metodologia, as funções dos órgãos não são claras
  • Falta de participação excepto quando há controvérsias
  • Confundir as assembleias com o OK Curral ("Aqui não há espaço para nós os dois. Se tens coragem aparece às 8 no cemitério para uma assembleia”)

Asambleas y reuniones, Metodologías de autoorganización, Ana Rosa Lorenzo Vila, Miguel Martinez López, Traficantes de Sueños, 2001
http://www.traficantes.net/index.php/editorial/catalogo/movimiento/asambleas_y_reuniones_metodologias_de_​autoorganizacion

Metodología Asambleas, 2008
http://stoneheads.wordpress.com/2008/01/30/met_asambleas/

Guía rápida para la dinamización de asambleas populares, 2011
http://stoneheads.wordpress.com/2008/01/30/met_asambleas/

5 comentários:

  1. Concordo com a metodologia e penso que a deviamos tentar colocar em prática já na próxima Assembleia. Para isso é necessário fazer já uma ordem de trabalho e arranjar documentos sobre o tema escolhido

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  2. E estes métodos têm uso em Portugal?

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  3. Gostaria de contribuir com uma análise mais profunda das causas da situação a que chegámos que é a patologia do poder, indicando o estudo realizado pela Ass. STOP à Destruição do Mundo www.stop.org.br para ser considerado, a fim de não ser mais uma revolução como todas as outras e que no final deu no que deu.

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  4. Só existem duas maneiras de resolver esta "crise" de uma vez por todas!
    Veja aqui: http://youtu.be/xLcETMnuGAs
    15 DE SETEMBRO!!

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  5. Desconhecia que existia algo assim em Portugal. Mas vejo que anda meio parado.
    Talvez um dos motivos, seja a certeza de soluções, quando a solução é mesmo Democracia Verdadeira.

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